


Silvania Maria Vieira
Eu me chamo Silvânia Maria Vieira, sou moradora da comunidade do Parque Santana há 26 anos. Cheguei aqui em 1998, no período da Copa. Sou mãe de sete filhos e sou de uma família também de sete irmãos. Vim pra cá fazer minha moradia com meu esposo, buscando ter uma moradia própria. Cheguei aqui numa época em que a gente tinha muitas dificuldades de locomoção, de transporte e de encontrar vaga na escola para meus filhos.
A gente entra dentro da comunidade e se envolve com a participação para buscar melhorias, porque eu também precisava delas ao entorno, para garantir a educação pros meus filhos. E é uma comunidade que, quando a gente chega, a maior dificuldade que eu encontrava era escola e transporte.
Eu morava na Parangaba e, depois que minha mãe morreu, fiquei responsável por criar meus irmãos. Quando me casei, senti que era hora de começar minha própria vida com minha família. Então me mudei com meus filhos para o Parque Santana, para um terreno que meu sogro tinha oferecido, numa área de ocupação. Enquanto nossa casa estava sendo construída, eu ia e voltava de trem, que era o transporte mais rápido. Vim pra cá buscando uma vida melhor e a chance de construir o meu próprio lar, um novo começo de vida. Era próximo da Parangaba, e foi o lugar que escolhemos pra ficar.
Quando chegamos aqui, tínhamos um grande problema também com a falta d’água. Passávamos dias sem água e, quando chegava, já era à noite. Uma memória que trago muito é que, antes, as casas não tinham muro, apenas as casas construídas nos terrenos. A gente lavava roupa de noite, conversava, brincava, achava graça. Ali já era um momento de se juntar, já que a água só chegava à noite. Estendia tudo e, no dia seguinte, recolhia. O fato de passar a noite fazendo essa atividade gerou uma proximidade e partilha entre os vizinhos.
Meu legado é o que posso fazer de transformação na vida do outro. Quando fundamos o Movimento Orquídeas, a Casa do Movimento Orquídeas, foi pensando e acreditando nas mudanças a partir das nossas ações coletivas. Ver tudo isso florescer através de uma conquista de jovens que passaram pela Casa das Orquídeas, através da autonomia das mulheres. Eu penso que a gente está deixando algo quando traz a comunidade para pensar a história que ela traz consigo, que cada morador é protagonista de toda a história. Pra mim, é um legado que cada um carrega consigo. Quando a gente vê a Junina Criançada, que é um grupo de quadrilha formado por jovens e crianças da comunidade, quando vemos as mulheres na luta pela creche, pelos filhos, pelos seus direitos, é uma marca que estamos deixando. Aqui encontramos lutas, desafios, mas também encontramos esperança. E morar na comunidade onde a gente tem um equipamento tão importante como o Minimuseu Firmeza é ótimo. A comunidade traz todo dia a vontade de tentar novamente.
Lembro dos vizinhos que se foram. Me vem à cabeça também a conquista da Creche Maria Hercília Evangelista Martins; é uma memória que me faz sorrir, símbolo de resistência e homenagem à nossa companheira. Meu filho estudou lá e muitos jovens que passaram por ela hoje têm acesso, e transformou vidas. Também é um marco.
Acredito muito que a mudança é fruto do pensamento coletivo. O sonho de melhorar a comunidade passa pelo coletivo. E, se a gente sonha junto com os jovens e com outras pessoas, podemos sonhar juntos uma nova realidade.
“Um sonho que se sonha só é apenas um sonho; um sonho que se sonha junto se torna realidade.”
